Evocação

Histórias com juízo, moedas de sol e girafas: evocar Mário Castrim

Sara Reis da Silva

André da Loba

Cereja

Sem
peso

um quase

brilhante

baloiça

de loiça

verniz

um brinco

do instante.

Mário Castrim (1993). Histórias com Juízo. Lisboa: Caminho (4ª ed.), p. 67.

Elsa Navarro

A lâmpada

Onde estás?

– No tecto

na rua

no avião

no barco.

De que é o teu corpo?

– De vidro.

De fio.

De nada.

Qual a tua profissão?

– Mostrar.

Que dás às coisas?

– A prova.

A sombra.

Mário Castrim (1993). Histórias com Juízo. Lisboa: Caminho (4ª ed.), p. 58

José Manuel Saraiva

Pêra

Fosse outra coisa – e talvez fosse um sino.
Fosse outra coisa – e era um coração.

Mas é o que é
que é muito mais
que ser o que não é.
Nem desanima
De ter só um pé
E mesmo esse em cima.

no sítio onde em geral o pé é a mão.

Mário Castrim (1993). Histórias com Juízo. Lisboa: Caminho (4ª ed.), p. 68.

Marta Madureira

Patamar

Espera.
É só o tempo
de um sinal.

Espera.

É só o tempo
de encostar o ouvido
na parede
e ouvir bater
um coração lá dentro.

Espera.

É só o tempo.
deste verso.

Mário Castrim (1993). Histórias com Juízo. Lisboa: Caminho (4ª ed.), p. 7.